12.22.2015

The golden age



Temos olhado para aquela época como se fosse a melhor fase de nossas vidas. Talvez fosse, pois penetrar lentamente no mundo adulto é uma passagem dolorosa. As preocupações acumulam-se sobre os ombros; as exigências, na caixa de entrada. Aquele tempo era da leveza. E o próprio fato de nos referirmos àquele tempo é prova de que situamos nossa felicidade ingênua em um tempo imemorial, longínquo, sem data. Mas nem faz tanto tempo assim.

Uma década se passou desde que nos encontramos pela primeira vez. Dizer década, nesse contexto, evoca uma percepção de duração superior a dez anos. É o tempo de um ciclo, é o tempo de uma crise. E cruzamos, agora, a crise dos 30. A dos 40, quem sabe, será pior e não demora. Viver a faixa dos 20 era a glória.

Parece uma cena de filme: nós nos encontramos e, ao relembrar o passado, nos queixamos de que os tempos de hoje são outros. Mais superficiais, dizemos. Com jovens mais perdidos. Tudo mudou. Nos sentimos pré-históricos porque falamos dos lugares que costumávamos ir. Alguns já fechados. Outros abertos ainda, embora frequentados por um público tão outro, tão nada parecido com a gente, tão reformado e adaptado que nem reconhecemos mais como algo que pertenceu aos nossos pés. As festas, a música, a tecnologia daquele tempo. Tudo mudou rápido demais.

Somos tocados pela convicção de que nosso tempo era melhor. Era a idade de ouro. Metal corroído no intervalo: uma curva em negativo segue-se à apoteose da nossa pequena civilização. Por isso nosso corpo vive a nostalgia de outra época, algo bitter-sweet, cheio de memórias.

Nas poucas vezes que nos encontramos hoje, retomamos nossos feitos. Só nos esquecemos (quem sabe voluntariamente) dos efeitos daquilo sobre nós naquele tempo. Posso lembrar de alguns afetos: era tudo tão banal, aleatório, inconsequente. E, paradoxalmente, ao mesmo tempo que nos divertimos com nossas histórias de ontem, sentimos vergonha. Hoje não faríamos aquilo. Não com a experiência do presente, não com a tecnologia de agora.

Então, o que lembramos? E por que lembramos?

Queremos dar sentido aos nossos fracassos e nossas vitórias. Colocamos na caixa de guardados uns poucos itens. Ignoramos vários. Deixamos a nata. Uma película fina na qual queremos boiar. Porque a convicção de que aquele tempo foi o nosso tempo nos revigora, realça e nos permite seguir em frente. Em uma nova era.

.: marcio markendorf

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