7.09.2013

Conversas talvez não existentes


A: Eu não te aguento mais falando.
B: Sério? Não foi isso que tu disse quinze anos atrás quando tu tavas agarrada em mim chorando.
A: Aquilo foi diferente. Eu era mais jovem, tu eras mais verde.
B: Que positivo. Isso significa que agora a gente vai se separar. Siga em frente, eu fico aqui, é a única coisa que eu consigo fazer.
A: Não seja tão dramático.
B: Longe de eu estar sendo dramático. É que eu literalmente não consigo sair daqui. Eu tô preso no chão.
A: Ah, é mesmo.

1 hora antes.
A: Desculpa ter colocado a corda do balanço em ti. Deve ter doído.
B: Colocar a corda não doeu. O que doeu foi tu ficares se balançando por uma hora seguida. Criança desvairada.
A: Desculpa.
B: Tá desculpada. Já que nós estamos falando do passado, eu queria te informar do acidente com o vidro da janela da frente.
A: Foi tu? Eu levei a maior bronca, tive a minha mesada cortada por um mês e fui pra cama sem jantar.
B: Eu não falava naquela época. Eu tinha que chamar a tua atenção de algum jeito.
A: Pra que?
B: Pra tirar aquele pássaro endiabrado que tinha feito um ninho. Eu e o vento demos um fim nele. Tu nunca que ia me escutar mesmo, com o fone de ouvido do egoísmo.
A: Tu és impossível.

2 horas antes.
A: Que sonho estar falando contigo! Por quanto tempo eu quis isso!
B: Sim. Maravilha pra ti. Eu por outro lado sempre te escutei.
A: Mas eu não. Ah, se eu contar por aí que o meu querido pé de Flamboyant fala, ninguém vai acreditar.
B: Isso, vai, esfrega na cara dos outros. Show off.
A: Deixa disso, Flam. Tem tanta coisa que eu quero te dizer. E eu quero te ouvir também.
B: Quantos 'eu' em uma frase só. Quinze anos depois e as coisas não mudaram muito.
A: Estranho, eu não me lembro de tu seres assim quando eu era criança. Deve ser o tempo úmido.
B: Claro, põe a culpa na umidade. Mas vai, desembucha. O que tu querias me dizer mesmo?


Ketlyn Mara Rosa


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