8.14.2009

carta ao escrevente de cartas

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cariño,

na falta de personagens livrescos, de quixotes e minotauros; na falta de algum destinatário fictício, dito esta carta para enviar àquele que a transcreve. como vai seu trabalho de escrevente? soube que encontrou um cliente fixo (desses acidentados que, por uma seqüela ou outra, necessitam de mãos e caligrafias emprestadas) e que paga bem. tem se alimentado? por que essa mania de revirar os olhos quando me importo com você? e por que no meio de voltas e voltas eles não se viram contra mim? sim, hoje você será dispensado mais cedo, serei o mais conciso possível. as perguntas são escudos que já não me interessam. enumero afirmações. quero seu sorriso. não me apaixonei pela sua letra, mas por um sorriso lançado de frente ao meu portão. tenho poucas histórias que recorto e colo. sou um corajoso a lutar contra minha covardia diária. sou tímido apenas quando me convém. minha sinceridade um dia irá ajudar minha escrita, por enquanto me sinto limitado. não busco tanto a beleza quanto as idéias, seja nos textos, seja nas pessoas. quero descobrir como lhe arrancar outro daqueles sorrisos. quero o riso cúmplice, de quem reconhece e brinca e joga e briga e compartilha os riscos. cataclismos são apenas metáforas. estou me fortalecendo e perdendo a entonação. o rebuscamento me largou, aquele sentimento de urgência também. tenho que buscar novas referências e livros. está na hora de reler todas as cartas. importa que esta chegue. só importam correspondências, ainda que nascidas no intervalo, ainda que feitas de sorrisos.

.: oberdan piantino
22ª das
cartas de edward para hopper proposta literária em suspensão ("quando escrevo não penso", Juca)
imagem inicial - hotel room, hOPPER
imagem - cheshire cat, tENNIEL
Image courtesy of special collections, Information Servives, University of Birmingham

3 comentários:

margot disse...

Quero comentar no texto abaixo!!!! Mas enfim, também é só pra dizer que achei lindo lindo lindo...assim, uma coisa leve e gostosa de ler...provavelmente a leveza que se tem quando se tem amor...aquele que à nossa maneira a gente escolhe (na maioria das vezes não), acolhe, amontoa e se adapta em meio a tantas mudanças. =] fez sentido isso?! Pra mim faz. Bjocas, saudade!

Dan Oberdan Piantino disse...

sim, um amor leve é todo o sentido que finalmente encontrei nessa escrita arriscada de cartas. E o melhor de tudo, é escrever um texto sem usar essa palavra gasta, ser lido com tanta clareza a ponto de se dar conta que a leitora sentiu o que as palavras não alcançam. amo encontrar minha leveza em meio ao caos do mundo

MCris disse...

Você é um artesão que aprendeu a esconder as ferramentas!

*!