5.18.2009

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A pequena criança enfia a mão sem dó na areia, enfia na boca, com gosto. Com aquele mesmo risinho que puxou o rabo do gato ontem. Gato manco, despelado, que mordeu a criança, sem dó. Atropelado também o irmão mais velho, descuidado, com a mochila sempre aberta: dinheiro, celular e chaves. O óculos arranhado na parte superior esquerda: único sobrevivente. E não percebem. Todos ocupados e ausentes. Não percebem. Eu disse: só não tá tudo bem, Tenho que desligar. Imaginei. A mão da criança agora desce até meu Estômago, ácido, arranhando da areia. Que guarda tudo dentro dele, uma duas três semanas. E fico inchada de tantas coisas lá, sem náusea, sem sentir a ânsia. Redondo, redondo. Lixa até sangrar, descola a casca da grande cicatriz, jorra feito vinho. Larissa aperta meu estômago como uma esponja, porque a dor escorre pelos dedos dela. Larissa, ouça, a mãe chama. Ela corre e com a garra aberta, quer passar por minha garganta: entala. A desgraçada da mãe chama. Larissa, fecha a mão! A sua amiguinha de blusa verde tem um nariz falso, com aquela cara de cachorro magro, com muitos donos. Larissa, teu pai comeu sua amiguinha sem a blusa verde: e você vem aqui vingar o meu estômago. Sai Larissa. Fecha a tua mão de bailarina gorda e devolve a identidade do seu irmão.

Um comentário:

marcio markendorf disse...

além de linda, tem sintaxe de escritora favorita...