5.17.2009

mochila, restaurante, ervilhas

1.
Casca de noz, trama metálica, seixo de rio, liga de platina e ouro. Dizem que cheirava a estanho e que era estranho o jeito de andar daquele garoto. Ele não percebia que enquanto se fechava, enquanto se transformava em uma concha vazia, sua mochila estava aberta. Esquilos, cavaleiros medievais, carpas gigantes, naves espaciais, pelos murais da cidade estão pendurados cartazes de procura de tudo que não encontrou ao voltar para casa.

2.
Haviam barricadas no calçadão, dessas feitas de fome e de uma estranha sensação de formigamento na ponta dos dedos e face. Muitos já haviam se perdido, os telefones não funcionavam e as vozes eram como lamentos ao meio dia. Do grupo de duzentas crianças que haviam se rebelado com a merenda, daquele bando que resolvera, em assembléia no play, sair pelo bairro (ou mundo real como a CDF marxista de aparelho e sardas no rosto dissera), sair em busca de comida, todos estavam prontos ao canibalismo, mas se contentaram com o único restaurante a quilo que não soubera da guerra civil.

3.
Elas não agüentavam mais. Não, não mais. Oh! Mundo tenebroso de talheres inoxidáveis, alfaces sem gosto e pratos de vidro temperado! Não havia consenso, não era regra, nem houve entendimento, o tapete verde que adornava o salão de festas era feito, apenas, de ervilhas suicidas.

Um comentário:

marcio markendorf disse...

por que é que não dá para ler isto aqui sem ouvir sua voz lendo?