Navinski. Um capitão sem navio. Um homem digno cujas roupas
um dia já foram sem buracos. Ou remendos. Ou sujeira no seu longo casaco azul
marinho. Um chapéu Napoleônico que poderia impedir a visão de qualquer pessoa
atrás dele. Sentado no cais balançando as pernas. As botas pretas reluzentes
recém engraxadas. Ao seu lado, seu fiel escudeiro. Não um cão. Ele não era bom
com animais. Muita competição de instintos. Ao seu lado um homem baixinho,
feliz, risonho. Realista, de mente aberta, calmo, severo quando necessário, um
lutador. Marinheiro. Esse era seu nome. De guerra. Navinski o havia conhecido
sabe-se Deus quando. Não importava. Lá longe, quase perto, um navio. Majestoso,
com três velas. Não, duas. De binóculos, uma vela quase que parecendo nenhuma.
Aportou. Um barco de pesca na verdade. Cheiro de peixe. Urgh. O dono saiu,
levou os peixes. Navinski entrou, levou o Marinheiro. Apontou para o Norte e
disse querer ir para o Sul. Sem críticas ao intelecto do Capitão ou suas
habilidades navegacionais, o escudeiro rema para o local certo. Navinski
majestoso, sentado na ponta do barco. Costas retas. Olhar triunfante. Bota
enroscada na rede com pequenos peixinhos pululantes ainda sobreviventes.
Orgulho de estar navegando. E não remando. Mesmo com um remo extra sobrando.
Visivelmente sobrando. Vento no rosto. Nasceu para isso. Bochechas vermelhas do
Marinheiro remando. Sorriso arfante. Mais depressa depois de ouvir os apelos do
dono. Nasceu para isso. Dono xingando na ponta do cais. Coitado não nasceu para
isso. Vida traiçoeira no mar. Não é para todos. Continua no próximo porto.
Ketlyn Mara Rosa
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