6.23.2010

o fio de condão.


dear:

daqui de dentro não paro de pensar. é assim mesmo: me dissolve. e depois me devolve em vapor para o hálito da tua boca. no frio, nas manhãs que acordam bem frias. em mim, que também acorda frio. é quase impossível pensar de quem é a responsabilidade. dez nomes, cem nomes, mil nomes. mil nomes eu poderia citar. desta vida. e de outras. eu lembro tudo - reencarnação também é recordação. e é assim mesmo: quando você entrega o corpo a alguém que não o aceita, não tem como pegar de volta, parte de você se perde pra sempre. como alguém que engole uma hóstia, sem acreditar em deus. há muitas vidas tenho me partido, o que me faz não parar de pensar. por favor, me maltrata. não é doce assim que me conquista. [eu insisto pelo avesso já que não te tenho nem pelo começo]. me diga nomes sujos, feios. não me diga nada, faça silêncio. o de sempre: silêncio morno e surdo. e depois um cuspe, um cuspe na cara, no chão, na parede do quarto. me rejeite até eu me afundar no sofá, até amar a teus pés, inteiramente grato. isso sim. isso sim seria a perfeição. o amor mais bonito é, quase sempre, o mais impossível. não quero tua pele, quero apenas o desejo da tua pele. não quero teu corpo, quero apenas o desejo do teu corpo. e basta. basta para que eu não pare de pensar e de caminhar pelas ruas por um fio de condão.

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