7.15.2009

feira de imagens

_O saguão do aeroporto cheira a mil metros de álcool e resina fria. Últimos da fileira, Bernardo e Joshuá sentiriam algo mais se fechassem os olhos e se concentrassem: a rica mistura do perfume indiano da japonesa com suas mãos trêmulas sobre a bolsa a tira colo; somado a essência francesa do dinamarquês com suas duas pastas entre as pernas; mais o suor mexicano do mexicano com cidadania canadense e passaporte na lapela do paletó marfim; com o toque final da loção pós-barba escocesa da portuguesa de lábios nervosos e hipnótico olhar amendoado. Bernardo e Joshuá sentiriam a inconfundível fragrância de um aeroporto em horário de pico, mas é sob o efeito de álcool e resina que passam as horas de espera no espaçoso saguão amarelo.
_-Rasgue a revista se a fotografia lhe interessa - diz Bernardo, seguido do som de papel desfeito e risadas frouxas de Joshuá - ninguém dará por falta de uma ou outra página. Isso, guarde só o que couberem nos bolsos que não temos espaço para revistas.
_O papel se desmancha entre as mãos gorduchas do menino de moicano ruivo.
_-Vô, como se sonha com olhos abertos? - pergunta Joshuá sem parar de contar os pedaços de papel que passam da mão esquerda para a direita - como faz para sonhar durante suas intermináveis viagens?
_-Até os sonhos tiram férias J.D. - responde com voz fraca o grisalho Bernardo, em meio a centenas de vozes.

Um comentário:

camila disse...

às vezes por mais tempo do que deveriam...saudades de vc dan!