4.23.2009

A cidade de Safira

_Toda a população de Safira vivia unida. Não a união político-democrática-cultural das cidades vizinhas, mas a simples necessidade de ficarem, seus dois mil habitantes, uns sobre os outros, como um monturo de corpos após um genocídio.
_Na primeira vez que cheguei à cidade, tive intenção de me ajoelhar diante daquela montanha de braços, cabeças, pés, mas fui detido por risadas e um chamado:
_- Olá forasteiro! - disse uma voz perdida e abafada - bem-vindo a Safira, cidade incrustada entre as montanhas do medo e o lago da ignorância, onde pedras preciosas brotam de tudo que não tem vida.
_Só então percebi que os castelos em pedrarias eram, na verdade, torres de vigia, antigos sobrados, moinhos e ruínas. Para ter um leito macio, aquele povo estava amaldiçoado a viver unido.

.: oberdan piantino
florianópolis, 23 de abril de 2009
(miniconto criado como exercício de inverossimilhança para o curso de formação de escritores do SESC, em 29/08/08, a partir de leitura de trecho das cidades invisíveis de Ítalo Calvino
).

Um comentário:

aluah disse...

onde pedras preciosas brotam de tudo que não tem vida."


há vida nessas pedras?