__Ele mexia o corpo ao som do que para mim era inaudível. Usava fones externos, desses que dão volta por trás da orelha. Ele os usava com a mesma naturalidade com que oscilava o corpo. Desde o início, nos cumprimentamos com um gesto mínimo e um olhar tímido. Naquele momento, tive a sensação de que eu possuía uma cor musical para ele, ou melhor, que por poucos segundos eu surgira para ele como uma imagem frágil em meio à cores muito mais intensas. Quase podia vê-las tremulando para além de seus fones.
__Ela viera no mesmo ônibus que eu. Também portava fones, só dessa vez internos, brancos e discretos. Dela não percebi qualquer movimento. Seu cabelo preto, de corte curto, seus grandes óculos escuros e seus lábios crus, fechavam-na em um silêncio preto e branco. Eu sentara na fileira de bancos ao lado do dela e, por isso, pude perceber o leve virar de seu rosto em minha direção. Não havia som, nem ritmo. Algo nela estava fechado à minha fragilidade, à minha frágil imagem.
.: oberdan porto leal piantino
12.04.2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
muito boa essa sua idéia dos dois pontos de vista. adorei.
Postar um comentário