1.11.2011

Teoria do Olhar de Retorno


Em seu livro Adiós: cómo decir esto sin un corazón (Ed. ArteSonido, Buenos Aires, 2009, 245 p.), Juliano Adrian elabora uma teoria interessante a respeito do que chama de "Teoria do Olhar de Retorno" (La teoría de la mirada de retorno) para tratar de gestos simbólicos envolvidos nos relacionamentos afetivos. O psicanalista argentino afirma que há uma relação fantasmática entre a despedida dos amantes e o sentimento de partida, algo que remonta a da época dos marinheiros mercantes.

Para o autor, quando um navegante está de partida, fatalmente lança um último olhar para trás, instantaneamente nostálgico, com o qual abraça visualmente aquilo que vê distanciar-se e do qual não gostaria nunca de deixar para trás. A viagem é percebida como uma triste separação e, ainda que provisória, sempre envolve o risco de uma perda permanente, de um não-retorno, de um naufrágio, de uma morte marinha. É nesse momento que acontece o chamado 'olhar de retorno', pois volver os olhos para a terra é deixar evidente que para lá pretende-se retornar, uma vez que o trajeto para outro lugar é obrigatório.  O olhar de retorno, portanto, é um modo simbólico de dizer 'eu te amo, me espera, volto logo, caio em teus braços dentro em pouco'. É um gesto de permanência no passado-presente.

Por outro lado, quando não acontece esse olhar, há uma marca simbólica da raiva, do desejo de partir e nunca mais voltar. O marinheiro que olha apenas para sempre tem em si a marca da aventura, do projeto de conquista. O que fica para trás não interessa mais, perdeu a importância, não tem mais valor. É algo que é tão indesejável que não merece a última nostalgia visual. É um gesto de agressão ao passado-presente e de cumplicidade com o que está no futuro.

De acordo com Juliano Adrian, o mesmo funcionamento simbólico se dá com os relacionamentos. Quem se enamora sempre olha para trás quando está indo embora, pois se apega ao passado-presente. Quem desiste do outro, só consegue olhar para diante, o futuro.

.:marcio markendorf
imagem: the sailors, eugène delacroix, 1876.

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