o sujeito moderno, metropolitano e liberal vive só em seu apartamento.
tamanha é sua liberdade que poucas vezes se dá conta da solidão universal.
acontece quase sempre em um dia de muitos conflitos, de recalques pulando os muros, de tristezas sem razão.
invariavelmente é com o sujeito moderno, metropolitano e liberal deitado na cama,
consultando a lista de contatos do celular para, então, notar que os números nada dizem sobre as pessoas com as quais se comunica.
colegas de trabalho (do novo e do antigo), telefones de domésticas, de homens faz-tudo, do síndico de todos os prédios onde morou, da série infinda de ex: companheiros de faculdade, amigos de bairro, amantes, amores, ex-alguma coisa. por vezes ele se perde na desmemória: quem é fernanda alves? patrícia antunes? ricardo sem?
é nesse momento que o sujeito moderno, metropolitano e liberal tira o telefone-lagosta do gancho e disca o número:
- cvv, boa noite.
.:marcio markendorf
imagem: telefone lagosta, 1938, salvador dalí.
2 comentários:
é nesse momento que o sujeito moderno, metropolitano e liberal tira o telefone-lagosta do gancho e disca o número:
- cvv, boa noite.'
toda essa modernidade, metropolinidade haha e liberalidade e a voz humana, o tato humano, o contato, ainda não foram substituídos.
gostei das entrelinhas!
Dia após dia o telefone-lagosta toca e o sujeito se pergunta: atendo?
A decisão fatal define seu destino, as sobras da lagosta.
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